Notícias de Figueiró 20/04

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Noticias referentes ao Notícias de Gouveia de 20 de Abril de 2007

                                  O que é a Páscoa?

 

A Páscoa cristã centra-se no domingo em que se celebra a ressurreição de Cristo.

            A Páscoa, que em hebraico significa passagem, era celebrada pelos judeus para comemorar a sua libertação do cativeiro egípcio, presume-se que durante o reinado do faraó Ramsés II.

            De acordo com os relatos dos livros do Génesis e do Êxodo, na terra de Canãa, José, filho de Jacob, foi vendido por alguns dos seus irmãos  e rumou até ao Egipto, integrado numa caravana de comerciantes que para ali se deslocavam a fim de  comprar trigo. O Egipto era, nesse tempo, a civilização mais avançada e próspera da Terra. O rio Nilo transformara este reino no celeiro do Mundo.

            José, que depressa atingiu uma posição de relevo na corte do Faraó, esteve na origem da fixação da sua família no Egipto, que ali se manteve durante cerca de quatrocentos anos.

            Enquanto José foi vivo, a estadia mostrou-se fácil e muitos dos descendentes conseguiram atingir posições de relevo na sociedade Egípcia. Logo que José morreu, as invejas e os ódios despertados nos egípcios, ao longo do tempo, vieram ao de cima e depressa os hebreus passaram de senhores a escravos. É neste contexto que surge Moisés a libertar os seus irmãos da escravatura e a conduzi-los até à terra prometida.

            O Faraó opôs-se a sua saída porque a mão-de-obra escrava era muito importante para a economia do reino, mas Deus, por intermédio de Moisés, fez cair 10 pragas sobre o Egipto. Ramsés ainda resistiu às nove primeiras. Porém,  mostrou-se  incapaz de fazer frente à última,  tão terrível ela foi. Deus, com efeito, seguindo a narração do Êxodo, enviou um anjo, durante a noite, para colher a vida de todos os primogénitos do Egipto.

Por indicação de Moisés, cada família sacrificou um cordeiro e com o seu sangue assinalou a porta de cada uma das suas casas, que o anjo poupou.

Só então o faraó cedeu.

O descendência de Jacob havia-se espalhado por todo o Egipto e multiplicara-se extraordinariamente. Mas,  tal como acontece com a imigração dos tempos modernos,  após tão longo período de permanência,  uma boa parte dessa descendência encontrava-se  já assimilada  e diluída  e, certamente, pouco interessada na saída.

É por isso que apenas  três das doze tribos de Israel estiveram envolvidas no êxodo: as tribos de Ruben, Simeão e Levi (Ex. 6, 14-27) .

Os hebreus  erraram pelo deserto, durante cerca de 40 anos, e praticamente nenhum dos que saíram do Egipto chegou a entrar na terra prometida, entrada que foi apenas permitida à sua descendência.

Como judeu, Jesus Cristo cumpriu a lei. Na sua última Páscoa ele observou todas as tradições até à noite em que seria preso no jardim de getsémane, no monte das oliveiras.

Durante a cerimónia da última ceia não havia cordeiro à mesa, como era hábito acontecer com a generalidade das famílias judaicas. Nessa noite, Jesus repartiu o pão pelos discípulos, declarando que o mesmo era o seu corpo cujos dons seriam repartidos pelos seus seguidores a partir de então.

Compartilhou igualmente o vinho que disse representar o seu sangue que estaria prestes a ser derramado por todos os homens.

Finda essa refeição, de acordo com o Evangelho de S. Lucas (22.39), Jesus saiu para o Horto das Oliveiras e os discípulos seguiram também com Ele. Depois, é  preso, julgado, condenado e sepultado para ressurgir ao terceiro dia.

 

Neste contexto , os cristãos de todo o Universo e os de Figueiró, igualmente, celebraram mais uma Páscoa. Muitos foram os que chegaram com esse intuito. É uma tradição muito característica e muito querida aos povos do norte e do interior do país. Bem me recordo do entusiasmo com que todos os meus familiares e amigos encaravam a partida para a aldeia para assistir à Páscoa.

Iniciei a minha vida de trabalho na Empresa de Cimentos de Leiria, em 1957, mas, logo em 1960, adquiri, com a complacência da administração, o privilégio de regressar a Lisboa  apenas na segunda-feira, para que pudesse assistir a todas as cerimónias do domingo de Páscoa. Desde então, apenas por duas vezes e porque me encontrava num país distante deixei de estar presente. Isto tem algum significado!

Este ano, com chuva e algum frio, lá estivemos de novo para, com os conterrâneos e os amigos, participar nas cerimónias pascais, mesmo assim pouco concorridas.

 

 

                                A Desertificação do Interior

 

            Um observador atento dá-se conta, facilmente, da incerteza que paira sobre o futuro das terras do interior, particularmente os meios rurais. Aqui a vida sempre foi complicada, convertida, para muitos, numa  luta desesperada pela sobrevivência.

            Nesses tempos, porém, não se vislumbrava no horizonte uma das maiores ameaças que, no presente, pairam sobre essas populações, centrada na sua crescente desertificação.

            Os jovens não encontram qualquer incentivo à sua fixação. Condições dignas de sobrevivência não existem. Depois de longos anos consumidos na obtenção de um curso,  as expectativas de uma colocação condigna saem completamente goradas. A maioria foge. Os que ficam não sabem o que fazer. Encontramos situações perfeitamente insólitas como é o caso daquela jovem licenciada, residente em Figueiró, que consegue apenas dar duas aulas por semana: uma a mais de cem quilómetros de distância (para os lados de Penamacor), a outra perece-me que em Canas de Senhorim.

            Por exemplo, em Figueiró, os jovens casais enfrentam outro problema: não conseguem habitação nem terrenos para a sua construção. Isto porque as exigências do Parque Natural e das Câmaras não se compadecem com estes interesses. Da parte do Parque a preocupação maior parece centralizar-se mais na protecção da paisagem e das rochas e não  na vida do ser humano.

            Mas outros problemas se colocam ao nível da educação, da saúde e das vias de comunicação. As escolas vão encerrando, os centros de saúde vão limitando os seus serviços a níveis inconcebíveis e os residentes acabarão por ficar entregues à sua sorte. Os que podem fogem; os que não podem ali morrerão à míngua de tudo!

            No jornal de 6 de Abril, chamou-me a atenção um título que converge no sentido desta minha reflexão: “João Mourato (referindo-se ao distrito da Guarda)  diz que alguns concelhos  podem desaparecer nos próximos 50 anos”. Penso que esta é uma visão optimista do referido autarca. Por este andar, dentro de 50, 100 anos, não existirão mais concelhos.

 

                                                         José Maria Mendes